FILOSOFIA

Comunicação não violenta…

Fiz, tempos atrás, um curso de comunicação não violenta. Termo que ouvi de uma antiga colega de trabalho, era algo que ela estudava e praticava. Era o tipo de pessoa que inspirava quem estava em volta a tentar ser mais parecido com ela. Eu quero ser.

Comunicação sempre foi um problema pra mim. Tenho dificuldade de ser espontâneo e muitas vezes passo a impressão de ser impessoal e frio, mal educado mesmo, sem empatia. Não é intencional. Eu sinto a dor do outro, só que eu demoro um pouco para perceber. Tudo o que eu digo precisa se pensado antes. Não só pensado, mas ensaiado, na frente do espelho, tentando prever todas as alternativas de respostas e reações dos outros. Comunicar dá trabalho.

Fiz o curso do ICL, Instituto Conhecimento Liberta, com o Rodrigo Suzuki. Aprendi algumas coisas que deveriam ser óbvias, mas acho que todos nós as deixamos de lado no calor das emoções. E reaprendi coisas que eu já deveria ter em minha rotina, como alguns conceitos que são iguais aos já estudados em Filosofia.

A CNV tem por objetivo melhorar as relações, não só com os outros mas com nós mesmos também, pois muitas vezes nos comunicamos internamente de forma violenta. A ideia é compreender melhor as intenções dos outros e de nossos próprios sentimentos.

Os primeiros termos são: o paradigma da dominação e o da colaboração. Nossa comunicação ou compete com ou outro ou ela colabora.

Julgamentos, por exemplo, são sempre formas de competir com o outro, isso sempre irá impedir uma conexão. Neles impomos nossos valores e necessidades. Forçamos o outro a assumir uma postura de defesa e resistência ao que dizemos. Forçamos o outro a reagir com medo, culpa ou vergonha.

Negação de responsabilidade, é quando jogamos no outro a culpa pela forma como nós nos sentimos. “Você me deixa irritado…”

Obrigar alguém a fazer algo, agir com autoridade, também levam a comunicação para um estado de competição, forçando a culpa.

Então o primeiro elemento para uma comunicação mais colaborativa é o que os antigos filósofos chamavam de Epoché, ou suspensão do juízo. Não julgar! Depois assumir a responsabilidade dos próprios sentimentos. Ser honesto, verdadeiro e buscar construir, no diálogo, uma relação de colaboração com o outro.

Os 4 passos da CNV:

1) Observação. Aqui é importante separar o que é fato observável do que é mero julgamento.

2) Sentimentos. São mensageiros, pois avisam o que está nos faltando, em caso de sentimentos negativos, necessidades não atendidas. Os positivos revelam o que não nos falta mais, pois as necessidades já foram atendidas. É importante separar sentimentos de pseudo-sentimentos. Os pseudos não estão relacionado com necessidades atendidas ou não atendidas.

3) Necessidades. Aqui me deparei novamente com a pirâmide da Hierarquia das Necessidades, de Maslow. A dificuldade de ser empático surge no apego exagerado a solução que desejamos. O apego exagerado à estratégias reduz a probabilidade de escutarmos o outro. Quando não assumimos a responsabilidade do que sentimos aumentamos a chance do outro de interpretar o que falamos como uma crítica. Daí a importância de observar também nossos próprios sentimentos e traduzi-los em necessidades, para então pedirmos o que queremos.

4) Pedidos. Expressar o que necessitamos e o que não necessitamos. CLAREZA. Buscar sempre se expressar de forma objetiva e específica. A responsabilidade da comunicação é do comunicador. CONEXÃO. Buscar a compreensão de como nossa fala afetou emocionalmente o outro. AÇÃO. Pedido positivo e específico para atender a necessidade. Diferença entre Pedido e Exigências. Seu pedido será na realidade uma exigência se ao ouvir um não, você se sentir incomodado. Exigências forçam culpa, vergonha e medo no outro.

Concluir esse curso foi mais do que aprender uma técnica de comunicação — foi iniciar uma jornada de reconexão comigo mesmo e com os outros. A Comunicação Não Violenta me mostrou que a empatia não é apenas um sentimento, mas uma prática diária, que exige atenção, presença e coragem para se vulnerabilizar. Aprender a observar sem julgar, reconhecer meus sentimentos e necessidades, e expressar pedidos com clareza é como reaprender a falar, mas agora com o coração.

Ainda estou no começo, e sei que tropeços virão. Mas agora tenho ferramentas para construir pontes em vez de muros. Quero ser, como aquela colega que me inspirou, alguém que transforma o ambiente ao redor com gentileza e autenticidade. Porque no fim das contas, comunicar bem não é sobre falar bonito — é sobre criar conexão verdadeira.

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