Em sua primeira obra, Tractatus Logico-Philosophicus, o filósofo Ludwig Wittgenstein busca, de acordo com Marcondes (2007), fundamentar o conhecimento da realidade através da lógica, examinando a relação entre as proposições e a realidade. Para esse pensador uma grande parte dos problemas metafísicos surgem de uma má interpretação da linguagem, justamente por uma falta de conhecimento da relação entre forma lógica da linguagem e a realidade.
A Teoria pictórica do significado, proposta por Wittgenstein, afirma que há um isomorfismo entre o significado das proposições e os fatos da realidade, ou seja, segundo Marcondes (2007), entre a estrutura lógica da proposição e a estrutura ontológica do real. E segundo Fatturi (2015), para que haja essa isomorfia é preciso que haja uma forma de afiguração, e que seja coincidente entre a figura da proposição e a realidade figurada. Em outros termos, é preciso uma semelhança na organização da estrutura dos elementos que se encontra no fato real e na afirmação que busca expressá-lo.
Essa figura lógica de um fato da realidade é também um pensamento. Sem a lógica o pensamento não pode formular essa figura. E também um pensamento não pode ser figura de si próprio, pois não há realidade com a qual se possa comparar numa busca por verdade, então conclui-se que não existem pensamentos que sejam verdades a priori.
Assim, o pensamento é o que, de acordo com Fatturi (2015), faz ligação entre as proposições e os estados de coisas. Ou seja, ao afirmar algo a pessoa projeta uma possibilidade de realidade e esse projetar é o ato de criar a figura lógica. Porém a linguagem utilizada no dia-a-dia não nos revela diretamente essa forma do pensamento, pois é baseada em estruturas diferentes da lógica. E somente pela lógica podemos analisar as proposições em busca de uma isomorfia entre a realidade e a linguagem.
A linguagem é o nosso meio de descrever o mundo. O que comunicamos evoca uma relação de nossas afirmações com a realidade, o que é, numa visão analítica da linguagem, um isomorfismo. Nossas proposições são uma forma estrutural da linguagem, que representa, como no pensamento de Wittgenstein em sua primeira obra, uma compreensão pictórica da estrutura de um fato, ou objeto, real. Porém nem sempre usamos a linguagem de forma objetiva, como uma descrição fiel da realidade. As teorias mentalistas da linguagem afirmam que fazemos uso de expressões cujos significados se relacionam subjetivamente com nossas intensões e estados mentais. E as teorias não mentalistas, por sua vez, afirmam que às vezes nossas palavras se relacionam com o meio, a forma e a regularidade de uso estabelecido por convenção.
Quando afirmamos que “os jogadores já estão preparados e estão no gramado que é um lindo tapete verde”, podemos analisar aqui duas proposições: a primeira que se refere aos jogadores prontos no campo e a segunda que afirma o gramado ser um lindo tapete verde. Na primeira, seguindo uma teoria proposicional, constatamos a veracidade da afirmação por meio de uma relação entre a forma lógica e a realidade. Como explicam Bueno e Pereira (2005, p. 249) “o significado de uma proposição depende de sua verificação, isto é, depende do fato de se encontrar ou não uma situação que corresponda àquilo que diz a frase: de sua verdade ou falsidade.”
Já na segunda afirmação, sobre o gramado ser um tapete verde, podemos analisar por uma teoria não mentalista, pois envolve um conhecimento prévio do uso da palavra tapete por convenção no meio esportivo e não a referência a um tapete real. Trata-se de um caso também de conhecer as “regras do jogo” dentro do conceito de jogos de linguagem, apontado na segunda obra de Wittgenstein. Assim a verdade é constatada pela aceitação convencional. Marcondes (2007, p. 275) explica que no jogo de linguagem “o significado não é mais estabelecido pela forma da proposição, nem pelo sentido de seus componentes, nem por sua relação com os fatos, mas pelo uso que fazemos das expressões linguísticas nos diferentes contextos […]” O significado do tapete verde é determinado pela referência ao campo de futebol.
Percebemos então que a linguagem possui uma característica dinâmica, cuja análise e veracidade dependem mais do contexto do seu uso, do que de uma redução lógica, sendo necessário conhecer as “regras do jogo” para encontrarmos uma verdade.
REFERÊNCIAS
BUENO, Vera Cristina de Andrade; PEREIRA, Luiz Carlos. A Filosofia Analítica. In: REZENDE, Antonio (Org.). Curso de Filosofia: para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação. 13ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. cap. 14, p. 244-255.
FATTURI, Arturo; CATANEO, Marciel Evangelista (Org.). Linguagem e problemas filosóficos: livro didático. Palhoça: UnisulVirtual, 2015.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.



